Crescente número de cursos indica preocupação do setor na profissionalização do esporte
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Marcelo Santucci recebe certificado de Darío Pereyra, treinador uruguaio. Foto: Arquivo Pessoal |
O número de cursos voltados à formação de funções extra-campo dentro do futebol aumentou 75% nos últimos quatro anos. Até 2012 apenas seis entidades em todo o Brasil possuíam liberação do MEC e de confederações oficiais para ministrarem cursos de formação em gestão executiva e preparação técnica na modalidade esportiva mais difundida no país.
Há cerca de quatro anos atrás, em meio a discussão sobre o legado positivo que a Copa do Mundo traria ao país entidades como UNICEF, Federações estaduais de Futebol, Centros voltados à performance esportiva e universidades perceberam que não era apenas no ranking da Fifa que estávamos em 12º lugar, atrás de vários outros países.
Nesta mesma época o técnico de futebol Tite trocou a possibilidade de assumir como técnico da seleção principal de futebol por fazer um estágio no exterior com times como o Bayern de Munique e Barcelona. Questionado à época pelo Uol Esporte, respondeu que o Brasil não possui o mesmo cuidado com extra-campo do futebol que a Europa, onde o técnico de futebol é um manager, um gerente com poder de decisão em contratações, planejamento estratégico e posicionamento de mercado.
De acordo com Francisco Ferreira, Diretor do Centro de Excelência em Performance de Futebol o Brasil não está preparado pra atuar da mesma forma: “É uma mudança drástica pro momento, a gente não está preparado pra isso. Nós precisamos formar uma nova geração de treinadores e estes treinadores precisam ter essa formação na parte de gestão, que eles não tem.”
Culturalmente no Brasil, os técnicos em futebol são ex-atletas e profissionais que já atuaram no esporte e que possuem formação em Educação Física. Já na Europa, o manager faz uma graduação, escolhe um campo de atuação, estagia, atua como profissional e só depois recebe o título PRO, que o gradua como profissional ao mercado de trabalho.
Francisco Ferreira destaca um embate entre classes de profissionais no país: “Nós temos um embate no Brasil entre o acadêmico de educação física e o ex-atleta, que são aqueles que buscam as vagas como treinadores. Nesse embate há certo corporativismo, uma reserva de mercado, eu diria que os dois lados tem razão e os dois lados cometem equívocos. Nenhum dos dois lados é garantia de que vai ser um bom treinador. Nossas escolas de educação física, eu sou graduado em educação física, as nossas escolas elas formam muito mais pedreiros que arquitetos. Somos preparados para cumprir ordens.”
Esta disparidade se acentua quando um técnico brasileiro tenta se lançar no mercado internacional. Com dificuldades para conseguir certificação válida em outros países, uma vez que a maioria dos clubes exige o certificado da Uefa, eles perdem oportunidade de trabalho.
Atualmente, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) oferece programa de formação de treinadores em níveis semelhantes ao promovido pela Uefa, porém, com duração mais curta. O programa de qualificação da entidade possui quatro licenças, C (Desenvolvimento do Futebol - 140 horas), B (Formação de atletas - 180 horas), A (Futebol profissional - 210 horas) e Pro (Excelência no futebol - 320 horas). Eles, no entanto, não são válidos na Europa, na Ásia e na América do Norte.
Mas aos poucos a gestão do futebol brasileiro está se modernizando. Novos talentos estão entrando no mercado da bola, com projetos de gestão que planejam a longo prazo. Este é o caso do grupo de alunos da escola Business Futebol Clube que montaram a empresa GESFUT e que já atua com novos projetos de planejamento em clubes como a Portuguesa, mas que ainda enfrentam dificuldades para abrir espaço no mercado da bola.
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